Evento reúne organizações e iniciativas da chamada Meninas que Vão Além para apresentar aprendizados do programa
Projeto apoiado pelo British Council completou um ano e lideranças negras puderam compartilhar experiências em encontro realizado em São Paulo
Com o objetivo de envolver e estimular seis as organizações selecionadas pela Chamada chamada “Meninas que vão além”, o British Council, como parte do do programa UK-Brazil Skills for Prosperity, realizou uma série de três encontros (entre outubro de 2022 e março de 2023) para o compartilhamento de boas práticas, desafios, riscos, oportunidades e novas ideias. Os eventos foram criados por meio de uma metodologia colaborativa e uma agenda co-criada
O objetivo da chamada foi estimular a abordagem de questões de gênero e raça com meninas negras e estudantes de escolas públicas do oitavo e nono ano do ensino fundamental e, assim, ajudá-las a fazer escolhas conscientes para suas vidas pessoais e futuro profissional.
Em 14 março de 2023, aconteceu o evento de encerramento, desta vez sediado na Casa Preta Hub, em São Paulo. Durante todo o dia as organizações debateram sobre os aprendizados proporcionados pelos projetos desenvolvidos durante a Chamada, além de compartilharem perspectivas de futuro. As atividades contribuíram para trazer um espaço a mais de troca, força e aprendizado para a rede de mulheres negras e lideranças das organizações.
A primeira parte foi dedicada à apresentação dos projetos contemplados. Relatos mostraram diferentes formas de trabalhar questões como identidade e autoestima, potência, autocuidado, valorização da cultura, aquisição de conhecimento e competências, possibilidades de desenvolver a carreira, direitos humanos e saúde mental.
Muitas histórias inspiradoras se alternaram. Os conhecimentos trocados entre as organizações incluíram
- Fórmulas de química ensinadas por meio do bordado tradicional do candomblé ou do manuseio do fruto do dendê, e conceitos de matemática transmitidos com o trabalho em tranças nagô, do projeto “Investiga Menina!”;
- Fala sobre encontros de meninas com mulheres negras, em que houve trocas sobre trabalho, sentimentos e educação, ou ainda, relaxamento e autocuidado com a prática de yoga, do “Papo de Menina”;
- As experiências em rodas de conversa sobre conteúdos importantes escolhidos pelas adolescentes, do “Minas Negras”;
- Comentários sobre seminários e conversas sobre temas importantes da comunidade, como a questão hídrica, ou a saúde mental, do “Franciscas, Marias e a Dandaras”;
- A formação de rede entre meninas e entre familiares; como exercer uma participação cidadã, desenvolvidos no projeto “Elas na Escola”
O combate à evasão escolar com aprendizagem e prática de educomunicação, criado no projeto “Meninas Negras Vão Além”.
Debate e reflexões
A segunda parte foi conduzida, após pedidos das representantes das ONGs, por Amarilis Costa, advogada, ativista de direitos humanos e da consciência negra, professora universitária e pesquisadora, o segundo momento do encontro lançou luz sobre as necessidades e dificuldades levantadas pelas participantes na realização dos projetos.
“Cada organização vive uma experiência bem particular e um momento de desenvolvimento diferente. Algumas precisam de financiamentos para projetos específicos, outras têm o desafio de estar em espaços para construírem o projeto. Há aquelas que já têm uma bagagem anterior e um aprofundamento. Essa troca é importante”, resumiu Amarilis.
Para criar um momento de diálogo, foi proposto um “Mapa de contexto” — metodologia para pensar a realidade de cada organização e ampliar até chegar no macro no país, na sociedade e na economia, e como as organizações estão posicionadas dentro desses contextos.
“O Mapa tem um desenho muito parecido com o efeito de uma pedrinha jogada em um lago. Ela cria uma ondinha mais próxima e vai reverberando, reverberando, reverberando. Dependendo da força que a pedra bate na água, a gente cria uma onda quase do tamanho do rio. Então, a ideia do mapa é termos a pedrinha que bate no meio da água e refletirmos em cada onda de nosso contexto e nossa conjuntura”, explica Amarilis.
Na parte da tarde, Amarilis facilitou uma oficina, nos moldes de um mini workshop. A vivência incluiu importantes conceitos como advocacy, governança, gestão, transparência, sustentabilidade, sem perder o pé no chão da realidade e dos desafios trazidos pelo racismo estrutural do país.
As participantes discutiram com profundidade os temas levantados no Mapa de contexto. Juntas, traçaram caminhos possíveis para desenvolver ações para suas organizações, aperfeiçoar a gestão dos projetos e projetar cenários de futuro. Uma construção coletiva e potente de mulheres que vão além.
Evento em São Paulo
Evento em Olinda
Podcast
A ativista negra Amanda Costa é a convidada especial para conversar com as seis meninas e mulheres que vão além e são inspirações sobre os temas educação, ciência, comunicação, território quilombola, tecnologia e saúde mental. Cada episódio traz uma história de luta e compartilha os desafios e as conquistas adquiridos por essas mulheres. Ouça no seu tocador favorito e compartilhe!
Matérias
Os diversos temas que permearam a Chamada e o desenvolvimento dos projetos, deram luz às reflexões fundamentais para debates e conexões, seja com as organizações participantes, seja com meninas e mulheres, e toda a sociedade civil. Leia e compreenda os desafios e os aprendizados encontrados pelas ONGs ao implementar os projetos de gênero e raça para meninas do 8º e 9º anos do ensino fundamental. Pedagogia crioula, política, democracia e autoestima são alguns temas para refletir e ir além.